Devemos defender o nosso consumidor

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Postado em 29/ 11/ 2012



Esta é a política do SINDCOCO.

 



A polêmica guerra da água de coco

Atraídas por custos mais baixos, fabricantes começam a importar a bebida concentrada de países como a Índia e deixam concorrentes que usam matéria-prima nacional contrariados.

A indústria de água de coco não costuma despertar grandes emoções no mercado de bebidas.
Embora seja um produto tipicamente nacional, associado aos coqueirais do Norte e Nordeste, bebe-se muito mais sucos e refrigerantes por aqui do que a água que vem do coco. Mas a participação modesta no consumo (60 milhões de litros por ano ante os 500 milhões de litros de sucos prontos) não livrou a bebida de ficar no centro de uma polêmica: duas grandes fabricantes começaram a importar água de coco da Ásia e criaram um desconforto geral no setor.

Custos expressivamente mais baixos atraíram a cearense Ducoco e a americana PepsiCo (dona das marcas KeroCoco e TropCoco) a importar a matéria-prima das Filipinas, Vietnã, Sri Lanka, Índia e Tailândia – os maiores produtores mundiais de coco. “Nesses países, a água de coco não é nem subproduto, é jogada fora”, diz Francisco Porto, presidente do Sindicato Nacional dos Produtores de Coco do Brasil, o Sindcoco. Por ser descartada, custa um sétimo do preço do coco nacional, mesmo com o frete da viagem – que dura no mínimo 30 dias de navio.

As marcas rivais, claro, não gostaram nada da estratégia. Dizem que a concorrência com a matéria-prima asiática é tão desleal quanto o episódio dos brinquedos chineses. “Na Ásia, os produtores de coco não têm obrigações sociais,nãopagamimpostos e recebem subsídios”, afirma Paulo Roberto Gomes, diretor comercial do Grupo Sococo, maior empresa brasileira em volume envasado de água de coco, com produção de 35 milhões de litros ao ano.“O trabalhador brasileiro da cadeia de produção do coco ganha R$700, em média, ao mês, enquanto o asiático fica com US$ 23 mensais. ”Só no Nordeste, segundo Gomes, 70 mil pessoas trabalham nessa cadeia produtiva.

Ducoco e PepsiCo confirmam que fizeram importações de água de coco da Ásia – principalmente para escapar das variações da safra nacional e das oscilações dos preços do coco no Brasil. A PepsiCo, porém, afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que a importação foi pontual. “No primeiro trimestre de 2011, foi feita uma experiência com importação de concentrado de água de coco da Ásia”, disse a empresa, em comunicado. A companhia garante que a matéria prima asiática não é mais usada pela empresa. A Ducoco, também por meio de nota, declarou que “eventualmente compra de fornecedores de fora do País”.

Agricultores e concorrentes, porém, garantem que as importações continuam e que a cadeia de produção e comercialização da água de coco no País está sendo ameaçada. “Não sabemos quais volumes essas empresas estão importando, mas só no Vale do São Francisco, uma das regiões de maior produção de coco no País, as encomendas caíram pela metade”,afirma o presidente do Sindcoco. Ele também refuta a entressafra como justificativa para a importação. “Coco dá o ano inteiro”, diz Porto. “As variações são mínimas e o preço tem se mantido constante há anos”.


Sabor. Na Ásia, o cultivo de coco não é destinado à indústria de alimentação, mas, em sua maior parte, à produção de óleo de coco. Por isso, os coqueiros plantados lá são os da espécie gigante. No Brasil, mais da metade das plantações é de coqueiro anão mais recomendado para extração de água, segundo o pesquisador Carlos Martins, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), de Aracaju. O teor de gordura na água do coco do gigante é maior.

Não é só o tipo de coqueiro que influi na qualidade da bebida. Para ser trazida para o Brasil, a água de coco passa por um processo de concentração. “Ela se torna uma espécie de mingau”, explica um produtor de coco brasileiro que visitou os países de onde a água é exportada. Isso é feito por meio de um processo semelhante a uma desidratação, para que seja possível trazer mais água ocupando menos espaço nos navios. Conservantes são acrescentados para que a água resista à longa viagem.

“Chegando aqui, as indústrias adicionam água e adoçantes”, afirma Francisco Montans, que, com os empresários Tato Malzoni e Francisco Nogueira, é sócio da marca Beba Rio, de água de coco. “Cada litro desse concentrado faz 12 litros de água de coco industrializada”, afirma. O problema, acrescenta ele, é o sabor. “É por isso que muita gente não reconhece o verdadeiro sabor da água de coco no produto industrializado”, afirma Malzoni. Ele estuda acrescentar na embalagem dos produtos Beba Rio dizeres como “feito com coco do Brasil”, para diferenciar o produto do que é importado da Ásia.

Há também quem questione as condições sanitárias pelas quais a água de coco asiática é extraída. “Não posso afirmar que sejam anti-higiênicas, mas com certeza estão muito aquém dos padrões brasileiros”, declara Gomes, da Sococo. A empresa também usa o processo de concentração para transportar água de coco dos 8 mil hectares de coqueirais que cultiva até a unidade envasadora da bebida. “Mas não importamos nem aconselhamos a importação”, diz Gomes.

A Ducoco, por sua vez, diz que, independentemente de onde venha a água, os padrões de sabor da bebida são os mesmos. “A cadeia de fornecimento não tem nenhum impacto na qualidade do produto final”, diz a nota da empresa enviada à reportagem.

Investigação. Assim como há países que adotam restrições a produtos de exportação brasileiros (carne e suco de laranja, por exemplo), o governo brasileiro deveria adotar parâmetro sem relação à água de coco importada, defendem o pesquisador da Embrapa e o Sindcoco. Isso já acontece com vários gêneros agrícolas importados pelo Brasil. Um deles, por exemplo, é a maçã vinda da Argentina. “Seria preciso montar uma comissão com membros da Embrapa, da indústria, dos produtores e do governo para investigar as condições em que essa água é extraída na Ásia e mandada para o Brasil”, afirma Martins.

Fonte: O ESTADO DE S. PAULO - Lílian Cunha